Música que ajuda a escolher as cores certas
Não sei, sinceramente, se existem cores que correspondem a certos sons e como as coisas funcionam. Um compositor belga que fez muita música de encomenda para a Revolução Francesa, e que deve ter se inspirado na teoria das cores do Goethe e que se chamava André Ernest Modeste Grétry (1741-1831), tentou algumas respostas que até são convincentes. O azul teria a ver com o timbre do clarinete, a flauta lembraria o vermelho e assim por diante. Algúem descreveu o ar do Rio de Janeiro como "pastoso": haveria uma pátina a encobrir a sua natureza exuberante. Tendo a acreditar que a música do Tom Jobim guarda essa espécie de pátina - ela descreveria o Rio como queremos ver e não talvez como ele fosse - sem o tal ar pastoso.
Música que te entristece, apesar de ter uma "atmosfera" alegre
Berlioz - compositor francês romântico que viveu de 1806 a 1869, dizia em suas "Memórias" que nada o punha tão triste quanto as valsas de Johann Strauss. Tendo a pensar como Berlioz. Assim também em relação a certas marchinhas de carnaval ou mesmo certos sambas antigos. Uma vez perguntaram a Schubert por que é que ele compunha músicas tão tristes; ele respondeu que toda a grande música é triste. Acho que foi injusto inclusive com a sua própria música.
Música que tem potencial, mas deveria ter sido composta por outra pessoa
Um grande musicólogo francês chamado René Leibowitz certa vez aventou que um dos maiores compositores de todos os tempos seria uma mescla de Schumann e Brahms. Ele queria dizer que o ideal seria que Schumann tivesse a capacidade de desenvolver certas idéias, como acontecia com Brahms; e que Brahms tivesse a inventiva, a inspiração, digamos, de um Schumann: é uma hipótese para pensar, apenas isso. No que me toca, eu imaginaria que certas peças de Tom Jobim bem que poderiam ter sido orquestradas e desenvolvidas por Villa-Lobos - mas admito que, no fundo, tudo isso, não passa de uma besteira.
Música que define o tom da maioria dos seus dias
Não tenho musicas que definam os meus dias - mas já me ocorreu de pensar que, às vezes, a minha pintura está muito próxima de algumas peças do Willy Correa de Oliveira e que, em outras ocasiões, é o Villa-Lobos que me toma por inteiro, a ponto de eu pensar que o que eu pinto, só existe por causa dele. Mas são ilusões. O que existe é que Beethoven me revigora. Em suma, cada dia somos uma música, mas não sei se ela define as coisas que fazemos durante o dia.
Enio Squeff é artista plástico e nasceu em Porto Alegre. Iniciou sua vida profissional como jornalista na revista "Veja", transferindo-se, depois, para o jornal "O Estado de S.Paulo", onde se tornou editor da página de arte. Também trabalhou na "Folha de S.Paulo", como editorialista, crítico de música e, por fim, a convite da direção do jornal, como ilustrador.
Ênio Squeff na Internet
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