Carlos Moraes

Música que te lembra da época em que era padre
"Ainda no seminário, havia uma hora de música clássica aos domingos. E um padre lá botava sempre aquela 'Rapsódia Húngara número 2' de Franz Liszt. Aquela das tempestades que vão indo, vão indo - e vão! Digo em meu último livro que essa música foi minha primeira e virtual experiência de orgasmo. Aquelas tempestades nunca me enganaram"

Música que te faz pensar nos tempos em que ficou na cadeia
"'Casa no Campo' na voz de Elis Regina. Tão linda e, para o momento, pungente, que só no segundo mês de cadeia consegui ouvir inteira. Descobri que a beleza, às vezes, dói. Não se deve, por exemplo, oferecer um balde d´água para quem está chegando do deserto"

Música que é sinônimo da aventura que foi chegar em São Paulo, depois de abandonar a batina
"Foram duas. 'Caminhando Contra O Vento', de Caetano Veloso. Eu me sentia, como nunca, sem lenço nem documento. E também, na mesma linha 'Let It Be', dos Beatles"

Música para ouvir a dois, apenas contemplando o tempo passar, em silêncio.
Eu e minha mulher adoramos ouvir aquela 'Laudate Dominum (Vesperae Solennes de Confessore), do Mozart. Foi a coisa mais terna que a terra conseguiu dizer aos céus. O que quer que Deus tenha contra nós, ouvindo isso tem que nos perdoar"



* Gaúcho e corintiano, Carlos Moraes já foi padre, já foi preso e agora é apenas jornalista e escritor. Ganhou o prêmio Jabuti em 1981 com o infanto-juvenil "A Vingança do Timão". Acaba de lançar "Desculpem, Sou Novo Aqui", mezzo auto-biografia, mezzo ficção, que narra as peripécias de um padre que decide largar a batina para conseguir emprego como repórter em um grande jornal.